ERASMUS+ | THE END
Este fim não é bem um fim.
Escrevo estas palavras ainda sentada à secretária do meu quarto em Bruxelas.
É difícil resumir tudo o que aconteceu e aprendi durante os três meses de estágio neste projeto, até porque a viagem ainda não terminou.
Contudo, no meio de tantas voltas inesperadas, entre tantos momentos felizes, tensos, e assustadores, mais do que sobre filmes, produção e realização, do que inglês, francês ou holandês, mais do que qualquer outra coisa, tenho aprendido muito sobre pessoas e sobre mim.
Viver noutro pais, lidar e trabalhar com pessoas de outras nacionalidades, efetivamente abriu os meus horizontes para novas realidades, permitiu-me conhecer e compreender outras formas de pensar e de agir, fez-me despertar para outros valores na vida, e isto é tudo verdade.
O que também é verdade, mas talvez inesperado e menos popular, é que tudo isto provocou em mim uma apreciação pela minha vida, pela minha cultura mãe, pelo meu país, perto de avassaladora, com a garantia de que não é (somente) fruto da saudade do lugar onde pertenço.
É sim uma constatação de que, mesmo com tudo o que há de diferente a separar-nos uns dos outros, para o bem o para o mal, pessoas são só pessoas, e pessoas são sempre pessoas, seja na Bélgica, em Portugal, ou em qualquer outro lugar.
Pode até parecer uma conclusão tonta e simplória, mas encaro isto como um ensinamento que levarei dentro de mim para sempre, e que me relembra que o que realmente nos une e separa são os nossos valores mais profundos e basilares, e isso cada um tem os seus. É isso que nos faz conectar com alguém do outro lado do mundo, e repudiar alguém que vive ao nosso lado.
Aprender a fazer filmes, está a ensinar-me sobre viver em sociedade, a importância do respeito, da humildade, da compaixão, o quão poderosa e frágil é a paixão pelo que fazemos, a importância de olharmos e vermos.
No cinema e na vida, não vamos longe sozinhos.
Consulta aqui o projeto final da Melissa
Diário de Bordo #7
Aqui estamos nós, na última semana de Maio.
Em termos oficiais o meu estágio está prestes a terminar, mas na verdade, ainda terei mais 2 meses de aventura na Bélgica. Irei ficar a colaborar durante as rodagens como 3ª assistente de realização, algo pelo qual tanto trabalhei e me deixou muito feliz ao saber ficaria com esse cargo.
Também fiquei muito feliz quando finalmente encontrei a pessoa ideal para me substituir nas funções de assistente de produção, porque posso agora e finalmente dedicar-me em pleno na equipa de realização e mostrar-lhes o que valho.
Desta forma, estas duas últimas semanas de maio foram muito intensas, com momentos altos e baixos, mas com um saldo final positivo.
No âmbito cultural, tive várias experiências muito felizes. Assisti ao pôr-do-sol na roda gigante, embrenhei-me numa feira medieval épica, visitei o Jardim de Inverno no Instituto de Santa Úrsula, passei um dia em Bruges e fui ao Museu de Banda Desenhada em Bruxelas.
As rodagens do filme começam dentro de duas semanas mal medidas. Estou bastante entusiasmada, mas com um nervosinho miúdo, pois sinto que agora é que vai ser a valer. Tenho a esperança que estes 3 meses que passaram, e os próximos 2 que virão, sejam motor suficiente para que as oportunidades que eu procuro, surjam de facto, num futuro próximo, e que eu consiga chegar mais longe nos meus objetivos e sonhos.
Desejem-me sorte!
Diário de Bordo #6
Estamos a meio de Maio… parece mentira.
Tenho tido muito trabalho, e depois de a minha colega estagiária se ir embora (a Emma terminou o seu estágio na semana passada), fiquei logicamente mais subcarregada.
Tem sido algo bastante desafiante para mim encontrar o equilíbrio entre ser prestável ao máximo e fazer o melhor para cumprir com sucesso o que me pedem, e não deixar que me explorem ao mesmo tempo… muito desafiante, de facto. Portanto, estou também a aprender a determinar limites (devagarinho).
Felizmente consegui entrar par o departamento de Realização, tal como queria, e estou aos poucos a embrenhar-me em tarefas de assistente de realização, e fico feliz por sentir que a previsão do meu estatuto na equipa de realização é promissora. Contudo, e para já, estas novas responsabilidades são um acrescento às que tenho de produção, da qual não sei ainda me consegui desvincular (com “alguma” tristeza, devo admitir).
Uma batalha de cada vez, suponho.
Apesar disto, consegui ir passear um pouco mais que na quinzena anterior. Visitei o Museu Magritte e a Exposição 100 Anos de Surrealismo, o Museu dos Instrumentos, e fui conhecer o Parque de Tervuren (lindo, lindo, lindo).
Também tive a oportunidade de ir com a equipa num dia de Reconhecimento Técnico, em 2 locais, o que foi muito interessante.
Os dias agora já estão a ficar super longos, e frequentemente somos brindados com belos pores-do-sol, por isso tenho ido várias vezes trabalhar e até jantar para os jardins perto da minha casa.
Diário de Bordo #5
Nem acredito que já estamos no fim de Abril.
As duas últimas semanas foram bastante intensas em termos de trabalho, mas também (e por consequência) emocionalmente.
Esta semana tivemos os primeiros ensaios e finalmente conhecemos o elenco principal em pessoa. Organizar e ter todos os dias tudo pronto para os atores e os ensaios foi intenso e cansativo, mas também tivemos momentos agradáveis de convívio, e eu ainda consegui participar no ensaio de uma cena como uma das personagens (adorei o momento).
Quanto mais perto estamos das rodagens, mais instável fica a agenda, e cada imprevisto e peripécia geram uma maior tensão e stress.
Observar o trabalho dos meus colegas e o meu próprio trabalho (atual) tem me feito compreender várias coisas, não só em relação às funções de cada um num projeto deste tipo, mas também me tem feito perceber que, para o bem e para o mal, pessoas são sempre pessoas, independentemente de onde estivermos.
Há muitos aspetos no meu trabalho que me deixam feliz e me dão gosto em fazer. Contudo, há outros tantos, ou talvez mais, que não me estão a dar alegria nenhuma e talvez estejam já a superar os aspetos positivos. Outra coisa que esta experiência me tem feito perceber é que eu sou capaz de fazer produção, mas, efetivamente, gosto muito pouco de o fazer. Nesse sentido, com o trabalho a tornar-se mais intenso nos últimos tempos e com tendência para continuar, tenho tido dificuldade em encontrar motivação.
Porém, há uma luz ao fundo do túnel. Tal como falei no relatório anterior, temos andando a recolher candidaturas para possíveis estagiários durante as rodagens. Apesar de ser eu quem está a tratar disso no geral, alguns departamentos estão a procurar os seus próprios estagiários, incluindo o departamento de Realização. Tive a sorte de me aperceber que isto estava a acontecer em paralelo, e imediatamente anunciei a minha vontade e objetivo primordial de estar no departamento de Realização!!
O Tom (1st AD) mostrou-se recetivo, mas eu teria de falar com a Celine (Line Producer e minha coordenadora) primeiro. Assim fiz, e a Celine (que sabe o meu objetivo desde o início) estava já à espera disto e achou que fazia todo o sentido eu mudar. Agora, terei de falar com o Tom outra vez, mais a sério, e fazer figas para que ele me queira a trabalhar no departamento com ele…
Dito isto, passei bastante menos nesta segunda metade do mês, mas consegui ir à Antuérpia, onde passei o dia a explorar a cidade e visitei o museu dos diamantes. Assisti a vários pores do sol bonitos e sempre que pude, abrandei o passo para apreciar as vistas.
Diário de Bordo #4
Aqui estamos de novo!
Parece que ainda ontem escrevi o último diário de bordo, o que significa que o tempo tem passado mesmo rápido. Contudo, de facto, já muitas coisas aconteceram nesta primeira metade de Abril.
Quis começar a envolver-me mais em atividades e acontecimentos sociais aqui na cidade, então logo no início de Abril decidi ir a uma sessão do Zine Club da Biblioteca Muntpunt. Neste clube fazem-se bandas desenhadas e ilustrações com todo o tipo técnicas e estilos, que variam conforme os artistas presentes em cada sessão. Adorei fazer esta atividade e rapidamente comecei a interagir com pessoas novas. Fiquei tristíssima por saber que aquela seria a última sessão desta temporada, e que só voltarão em outubro, mas ainda bem que fui!
No dia seguinte, fui fazer um Creative Recce com a equipa do trabalho. Durou todo o dia, já que fomos visitar 2 castelos e um restaurante, mas foi bem divertido e interessante. No dia seguinte, fazer o relatório completo da visita não foi tão divertido, mas valeu super a pena!
Nestes dias fui também visitar o Museu e a casa do Arquiteto Victor Horta, que é o responsável pelos mais belos edifícios de Arte Nova aqui em Bruxelas. Visitar a casa dele foi uma experiência muito boa e passei a admirar ainda mais o seu processo criativo e a sua obra. Infelizmente não pude tirar uma única foto no interior, mas isso fez-me ver tudo ainda com mais calma e admirar todos os pormenores da sua casa, para fixar tudo ao máximo na minha memória.
O parque que saiu na bisca desta vez foi o Bois de la Cambre. E, meu deus, que parque! É enorme, tem caminhos e mais caminhos, um lago com uma ilha no meio (não fui à ilha, mas apreciei à distância), no extremo do parque há um castelo que virou café, e estúdios de diversas artes, tem um campo de golfe mais ao lado, e depois ainda continua literalmente por quilómetros numa floresta mais densa. Não cheguei a embrenhar-me na floresta porque já não tive tempo nem pernas para tanto, mas com certeza que hei de voltar para explorar essa parte.
Por fim, tenho ido às sessões de curtas num festival que está a decorrer neste momento, o BIFFF – Brussels International Fantastic Film Festival. Tenho adorado todas as sessões e tenho visto curtas muito boas. O ambiente e todo o conceito do festival também é super interessante e diferente!
Ironia das ironias, no trabalho fiquei com a responsabilidade recrutar novos estagiários para ajudarem em várias áreas na fase das rodagens. Estou também a fazer o Booklet de Produção, que sempre estimula um bocadinho mais o meu lado criativo, pois o design está 100% ao meu critério.
Há que tentar ver sempre o lado positivo! E quando se vive rodeado por túlipas, não dá para ficar triste!
Diário de Bordo #3
Posso dizer que me sinto e movimento cada vez mais confiante na cidade.
Nas duas últimas semanas tive a oportunidade de conhecer e explorar mais e novos sítios.
Fui conhecer a Cinemateca de Bruxelas – Cinematek – e, entretanto, já lá voltei várias vezes para ver filmes. Também visitei o Museu Autoworld e o Museu Militar pois são bem próximos da minha casa. Obviamente que fui descobrir mais parques e jardins e nestas duas semanas estive no Jardim do Le Botanique, no Parque Josaphat (que é lindíssimo) e o Parque do Cinquentenário já quase que faz parte da rotina.
Com a primavera a chegar, os narcisos estão a dar lugar às túlipas que também nascem por todos o lado e são de todas as cores e feitios. As árvores têm as folhas a crescer, algumas já a florir, e por isso tudo está a ficar mais colorido e vivo.
Decidi ir a um concerto, cujo anúncio vi por acaso num placard do Brussels Chamber Choir e foi muito lindo. Aconteceu numa igreja não muito longe, e que graças à sua acústica, as vozes do coro projetavam-se lindamente. Foi uma surpresa e uma experiência super boa e especial. A igreja estava a transbordar de pessoas, e só foi pena as cadeiras serem pouco amigas das costas.
No escritório, temos tido muitas reuniões de equipa, e um dos meus trabalhos tem sido assistir às reuniões para retirar anotações e fazer relatórios das mesmas com tudo o que foi discutido e decidido. Na semana passada também fui com parte da equipa visitar o Concert Noble, onde iremos gravar algumas cenas do filme.
Mesmo que produção não seja a minha paixão, fazer parte deste processo e contribuir para a criação de um filme, e deste filme em particular, tem sido muito gratificante e sinto que estou a apender imenso com todos os meus colegas e com tudo o que tem acontecido à minha volta.
Estou cada vez mais entusiasmada por ver as coisas aos poucos a materializarem-se e desejosa que as rodagens cheguem!
Diário de Bordo #2
Se me for permitido, quero dedicar esta entrada no diário de bordo ao sol.
Não houve muito dias de sol nestas duas semanas, mas sempre que o céu fica limpo a cidade muda e tudo ganha mais cor e ânimo. O número de pessoas nas esplanadas dos cafés, na relva dos parques, e nas escadarias dos monumentos com a bochechas vermelhas e os olhos fechados aumenta exponencialmente. E é bonito de se ver. Tirei muitas fotos nos dias em que fez sol.
Começo aos poucos a sentir-me mais à vontade na cidade. Visitei o Museu de Arte e História, o Museu de Ciências Naturais, e descobri outros cantinhos bonitos. Fui também ver filmes em duas salas de cinema independentes, Cinema Galeries e Cinema Nova, e adorei a experiência, as salas e os filmes!
No trabalho, mudámo-nos oficialmente para o novo escritório, que tem mais espaço e luz. A equipa também tem estado a aumentar, o que é bom! Já contamos com o 1º assistente de realização, o Tom, e com o location scout de verdade (não eu ahah), o Ralph. No meio disto, o meu trabalho continua a ser mais de apoio à produção, nomeadamente, preenchendo e organizando diversas informações e documentos relativos ao filme.
Algo que tem sido um pouco frustrante, e que também é importante mencionar, é o facto de toda a equipa falar holandês entre si, o tempo todo. Obviamente que compreendo que para eles seja mais prático e facilite a fluência do trabalho falarem na sua língua nativa. Contudo, ao fim de várias horas de trabalho conjunto, em que não percebo uma única palavra que é dita, o trabalho torna-se um pouco solitário. Acabo por não me conseguir envolver nas conversas, porventura contribuir qualquer coisa, ou sequer aprender sobre os processos paralelos que se estão a passar à minha volta porque, infelizmente para mim, entendo 0% de holandês. Já várias vezes tive vontade de pedir para falarem em inglês no escritório, mas a verdade é que tenho receio de o fazer. Talvez nos próximos tempos eu ganhe coragem…
Diário de Bordo #1
Passaram cinco dias desde que aterrei em Bruxelas.
O sentimento é um misto entre parecer já ter passado uma eternidade, com tantas coisas que já aconteceram, e parecer ser ainda o primeiro ou segundo dia, pois tudo está ainda tão fresco e à flor da pele. Estou ainda à procura do conforto, da tranquilidade e da segurança de uma rotina, mas tudo se está a encaminhar.
Fiquei aliviada por ter conseguido votar logo assim que cheguei, e foi reconfortante ser tão bem recebida no consulado português.
Na produtora (Polar Bear), estou a trabalhar proximamente com a line-producer do filme no qual estou a colaborar (The Age of Magic), a Celine, e tive já a oportunidade de conhecer e conversar com o produtor e o realizador do filme, o Xavier e o Peter. Estamos na fase de pré-produção, pelo que, para já estou a fazer tarefas de produção.
A primeira é fazer location scouting de possíveis décors para o filme, que sejam localizados especificamente em Bruxelas. Tem sido muito interessante e uma forma inesperada de conhecer melhor a cidade.
Nesta primeira semana, foquei-me sobretudo em localizar e decorar caminhos para sítios importantes da cidade, isto é, o caminho para o trabalho, supermercado, farmácia, consulado, o jardim e o cinema mais perto, o café com bom chocolate quente e waffles.
À parte disso, consegui ir visitar o Atomium, visitei algumas catedrais e edifícios estatais, e passeei em vários jardins, que nesta altura do ano, estão repletos de narcisos e outras flores.
Até breve!