No javascript ETIC | Sofia Camilo Sofia Camilo – ETIC

Pedir informações

    Sofia Camilo

    Diário de Bordo

    ERASMUS+ | THE END

    E chegou ao fim esta jornada. Foram três meses – treze semanas, noventa e quatro dias, aproximadamente duas mil, duzentas e cinquenta e seis horas – vividos em Malta, nesse pequeno pedacinho de terra dividido pelas três ilhas de Malta, Gozo e Comino; nesse pequeno pedacinho de luz, sol, mar, gente boa e, no fundo, paz, perdido algures nas águas turquesa do Mediterrâneo; nesse pequeno e extraordinário lugar onde fui muito feliz. Foram três meses e, ao mesmo tempo, foram um piscar de olhos. Não pela falta de intensidade desse período, em que vi tantas coisas, vivi tantas coisas, fiz tantas coisas, aprendi tantas coisas, e conheci tantas pessoas que certamente terão sempre um lugar especial no meu coração, mas porque realmente, no final de contas, o tempo é relativo e, se há alturas em que parece infindável, também há outras em que passa num ápice. Especialmente quando o aproveitamos bem. Aliás, acaba por nem ser o tempo passado em cada lugar o que mais importa, mas sim como sentimos a passagem do tempo nesse lugar.
    Malta foi mesmo uma jornada, em toda a extensão da palavra. Foi uma primeira pisada num país que desconhecia, no qual nunca tinha estado e sobre o qual descobri tanta coisa. Um lugar estranho que tive de desvendar, explorar, ao qual tive de me adaptar; um lugar que, no final do dia, acabei por apreciar verdadeiramente e ao qual, estou absolutamente certa, um dia mais tarde vou regressar. Foi, também para mim, sinónimo de percalços, imprevistos, obstáculos no caminho, é certo, mas também de muita aprendizagem, reflexão, carinho, gargalhadas, momentos felizes, aventuras, desventuras e crescimento pessoal. Hoje olho para trás e penso que realmente valeu a pena correr o risco; abraçar a possibilidade de ir conhecer o que não conhecia e permitir que essa página em branco me surpreendesse e acabasse por ganhar tanta cor.
    A vida às vezes tem destas coisas. Inicialmente, por mais inusitado que isto possa soar, estava apavorada com a ideia de ir para um lugar tão pequenino; um lugar tão pacato, tão discreto na sua tranquilidade cercada por mar por todos os lados; tão oposto a tudo aquilo que conhecia e a que estava habituada. Logo eu, que sempre adorei e procurei avidamente o caos, a confusão, o barulho, o movimento e a vibração de cidades grandes que nunca se esgotam, onde há sempre tudo a acontecer. “Apavorada” era mesmo o termo certo (por mais irónico que seja, que tenho consciência que são muitos os que fogem ao caos, quando no meu caso sempre foi o oposto – era mesmo a “calma” que me assustava). Questionei se faria sentido, para mim. Pessoalmente, profissionalmente… Duvidei muito. Ponderei não prosseguir. E não é que estava errada? Descobri que esse lugar “pequenino” era afinal enorme. Descobri que a “calma” que eu temia não foi sinónimo de monotonia, mas de paz de espírito – e que até sabe bem parar um pouco de vez em quando. E descobri que este lugar apenas passa despercebido a quem não pára para, verdadeiramente, olhar para ele. Ainda bem que o fiz. Que parei. E que olhei. Porque este país ao qual nunca pensei vir parar vai ficar sempre comigo, por todas as boas razões.
    Não me entendam mal: continuo a gostar do caos e da aventura (por que outro motivo me lembraria de fugir para a Sicília?)…mas Malta deu-me tantas outras coisas. Podia falar do sol, do bom tempo, da história, da arquitectura, da cultura, das tradições, do mar, das paisagens, da comida, das lendas…e das pessoas. Da simpatia, da humildade, da disponibilidade para ajudar o outro, do respeito, do sorriso fácil, da conversa leve, do ânimo, da curiosidade, da espontaneidade com que encaram a vida. São todas estas coisas genuinamente boas que, por vezes, na correria e no ruído e no caos do nosso dia-a-dia nos esquecemos que ainda existem. Mas existem. E vale a pena parar e reparar nelas.
    Levo comigo uma experiência de estágio fantástica, na qual fui acolhida numa boa empresa, na qual sempre me fizeram sentir parte da equipa, onde valorizaram e realmente apreciaram o meu trabalho, e onde todos os meus colegas, para além da dimensão profissional, foram fantásticos também na vertente humana – foram afáveis, corretos, companheiros e prontos para me ajudar, desde o meu primeiro dia, até ao meu último (?). Levo memórias de todos eles comigo e, da minha parte, fiz questão de lhes deixar também uns pastéis de nata e um bom vinho do Porto para se lembrarem de mim (ou não, depende da quantidade de vinho do Porto consumida). Obrigada por me levarem ao icónico The Pub e obrigada por me fazerem sentir tão bem!
    Levo comigo as noites de karaoke em Sliema, as sessões de pub e club hopping, o fogo-de-artifício no porto de Valletta, as sessões de Uno e bus driver no nosso apartamento, as idas à praia, o hiking, a descida da gruta de Tal-Mixta até à praia de Ramla Bay, a cerveja Cisk, o festival de rock e até mesmo a marca da picada da cabra da alforreca, e todas as coisas engraçadas que vivi com a minha maltinha lá de casa. Prost! E Kippis!
    E levo comigo todas as pessoas que, nos momentos mais aleatórios, fui conhecendo de forma mais efémera, entre as três ilhas de Malta e a Sicília, desde os meus vizinhos velhotes que tinham um cão fofo, à rapariga que me safou de perder a carteira logo no meu terceiro dia na ilha, aos senhores do café, à senhora que me deu o guarda-chuva dela quando me viu na rua a apanhar a molha da minha vida, à senhora da Cheat Meal que fazia as melhores Hobz biz-zejt, ao castiço casal de velhotes que está agora a vender sal junto às salinas de Marsalforn, aos putos de Gozo, a todos os malteses, alemães, sicilianos, finlandeses, peruanos e brasileiros com que me cruzei por coincidência quando todos nos encontrávamos nas ilhas, e que foram acrescentando sempre mais um pouco a esses bons tempos. Levo comigo rostos, lugares, experiências e, olha…um pouco de tudo.
    E sobretudo, a imagem bonita com que fiquei dos locais que, a cada esquina que viramos, têm construídos, com as próprias mãos e escassos recursos, abrigos para os gatos de rua que, também eles, alimentam. A minha colega de casa alemã disse-me uma vez que havia um ditado alemão que dizia que “se media a bondade de um povo pela maneira como tratava os seus animais vadios”…e eu acho que isso diz tudo sobre os malteses.
    Grazzi ħafna, Malta. <3
    Espero agora que tudo aquilo que vivi e aprendi não se desvaneça. Espero agora que a energia não esmoreça. E espero pegar nisto – em tudo isto – para continuar a criar.
    Que nunca falte a inspiração, que todos os lugares por onde passei (especialmente a minha Malta) me deram para o fazer.

    Consulta aqui o projeto final da Sofia

    Diário de Bordo #7

    Malta é um lugar especial.
    É um lugar onde o mar é mais azul. É um lugar onde podemos nadar e ver todo o tipo de peixes mesmo abaixo dos nossos pés. É um lugar de corais. É um lugar onde a areia é macia e os recortes sinuosos nas rochas e penhascos formam desenhos de tartarugas, crocodilos e altivos penhascos, nos quais nasce uma bonita flor roxa chamada widnet il-baħar, ou “o ouvido do mar”. É um lugar com as mais lindas paisagens. É um lugar de caminhadas na natureza. É um lugar onde vale a pena parar para apreciar o pôr-do-sol. É o cheiro a alecrim dos campos e das planícies, das ruas molhadas pela chuva quente, da maresia, do peixe fresco, das mercearias locais, do queijo Ġbejna, dos cozinhados dos vizinhos malteses e de um Imqaret acabado de fazer junto à estação de autocarros de Valletta. É um lugar de templos alinhados com o firmamento, onde, durante os solstícios de verão, a luz incide de uma maneira única sobre os megálitos de pedra calcária. É um lugar de História, lendas, batalhas, fortificações, crenças, tradições e histórias de fantasmas, com um folclore riquíssimo. É um lugar de cidades medievais, como Mdina e a Citadela, autênticas, como Birgu, Cospicua e Senglea, locais, como Birkirkara e Msida, divertidas, como Sliema e St. Julian’s, de pólos culturais como Valletta, de pitorescas vilas de pescadores, como Marsaxxlokk e Marsaskala, e de cantinhos bonitos como o vale de Żurrieq. É um lugar de bons cafés. É um lugar onde as pessoas têm sorriso fácil, gostam de conversar e de ajudar o seu vizinho. É um lugar onde conheci a melhor equipa de trabalho que poderia ter encontrado. É um lugar montanha-russa. É um lugar de surpresas, imprevistos e de escrita fora das linhas. É um lugar que ficou com o meu coração.
    Com esta bonita etapa a chegar ao fim, levo comigo um grande carinho por este lugar especial no meio do Mediterrâneo.

    Diário de Bordo #6

    —//—
    Malta tem sido…uma surpresa. Uma montanha-russa. Luz, cor e também dias de chuva. Um rol de experiências, vivências, aprendizagens e emoções. Que certamente deixaram a sua marca em mim. Tal como também eu vou deixar um bocadinho de mim aqui, quando me for embora. Nunca sabemos o dia de amanhã, e eu também não sei aonde irei parar depois disto, mas acho que funciona assim mesmo: por onde passamos, deixamos sempre um bocadinho de nós e levamos sempre algo desse lugar connosco. Não tem de se tratar de uma paragem permanente para ser especial; porque aquilo que vivemos lá, fica sempre connosco.
    O estágio ultimamente tem andado um bocadinho mais parado, o que, sendo franca, me tem desmotivado um pouco, no entanto, felizmente a equipa continua a ser boa onda, e de resto, é dar a volta à situação e procurar aproveitar os tempos mortos para adiantar tudo o que possa adiantar, e para economizar tempo também dentro do tempo que aqui me resta, procurando manter-me ativa e fazer bom uso dele.
    O tempo aqui está bom. Os dias têm sido quentes, cheios de sol, e mais do que nunca, a água do mar tem estado convidativa para uns mergulhos. Já não me lembrava da falta que isto me fazia: nadar, mergulhar, apanhar sol, respirar, ler um livro, parar um pouco…e voltar para casa com os pés cheios de areia e o cabelo cheio de sal – que, digam o que disserem, é a melhor sensação do mundo (pelo menos para mim). As praias rochosas não são as mais generosas para quem anda de pé descalço, e aceder-lhes muitas das vezes implica algum hiking (que se tem tornado um hábito – dos bons – por estes lados), mas o mar no final do caminho é dos mais bonitos que já vi, com água azul e cristalina, onde podemos ver com clareza vários peixes a nadarem abaixo dos nossos pés. Isso não tem preço. Pá…e é isto. Queimo bem os últimos cartuchos assim – com sol, mar, sal, rochas, vida marinha, cavernas, corais, passeios de barco, caminhadas, natureza, comida local, pores-do-sol bonitos vistos de altos penhascos, algum vinho e cerveja.
    Entretanto, apaixonei-me por Gozo. A irmã de Malta realmente tem aquele “feel” de ilha mediterrânea onde não se sente a passagem do tempo. Enquanto Malta é mais desenvolvida industrialmente, tem mais empreendimentos turísticos, é mais populosa inclusive, tem mais vida noturna, eventos e é mais vibrante em geral, Gozo parece vinda de outro tempo. E é uma ilha absolutamente mágica por isso mesmo. A par do facto de ter alguns dos swimming spots mais bonitos em que tive a oportunidade de nadar – dois dos quais situados na área de formações rochosas em que a Daenerys Targaryen se casou com o Khal Drogo, para os fãs de Game of Thrones.
    E, por fim, terminei esta última semana a fazer algo que queria fazer há muito tempo mas que, simultaneamente, me aterrorizava um pouco: a minha primeira experiência de mergulho, no mar de Malta. E confere, foi assustador. Talvez faça uma segunda tentativa.
    Por vezes sinto falta da minha música, por isso decidi ir a um festival de rock no sul da ilha. Por vezes sinto falta do cinema, por isso decidi ir a uma sessão de curtas de um realizador local, com o qual estive a falar e que acabou por ser bastante divertida. Por vezes sinto falta da arte, por isso tenho-a procurado em cada recanto, em cada local do Bienal de Arte de Malta, em cada museu, em cada monumento, em cada rua…mas uma coisa vos digo, com uma História e cultura como as de Malta, é impossível não sair daqui inspirada. Há certas coisas que fazem sempre parte de nós, não importa em que parte do mundo estejamos; e se procurarmos bem, conseguimos sempre encontrar estes cantinhos que nos fazem sentir em casa.
    —//—

    Diário de Bordo #5

    Bem…estou já a entrar no meu último mês em Malta…e não estou a gostar da sensação. Nope. Não estou mesmo.
    Por um lado, existe a consciência de que já vivi, senti, fiz e experienciei muita coisa desde que aqui cheguei…por outro, chega também a consciência de que isto está a chegar ao fim…e eu ainda com tanta coisa por riscar da bucket list.
    Não sei…sempre tive uma relação complicada com o tempo e nunca fomos propriamente os “melhores amigos”, até porque este tende a nunca andar ao ritmo que eu quero, e eu tenho tendência a nunca me alinhar com o seu ritmo.
    Antes de vir para cá, achava que três meses eram mais que suficientes para percorrer os 316km² do arquipélago maltês, e agora que a despedida se aproxima, vejo que, pelo contrário, o tempo escasseia num país com tanto para oferecer.
    Já vou olhando para todas as pequenas coisas com uma certa saudade precoce, porque sei que não vão durar para sempre. A minha casa, as ruas da minha cidade, as caras que vejo todos os dias, as rotinas, os hábitos, as surpresas, as vistas, as cores, os imprevistos, as coisas boas…
    Acho que quando se gosta mesmo de um lugar, todo o tempo que aí temos parece pouco tempo.

    Diário de Bordo #4

    Para dar início à escrita deste diário de bordo, a modos que vou resgatar um tema que já abordei anteriormente: o primeiro, o primeiríssimo, destes registos quinzenais da minha experiência a viver nesta pequena (e cada vez mais especial) ilha no meio do Mediterrâneo.
    As pessoas.
    As pessoas que tenho encontrado, com que me tenho cruzado aqui em Malta têm tornado esta experiência infinitamente mais rica. Pois tive a sorte de encontrar as pessoas certas. Não obstante os altos e baixos e os obstáculos no caminho, a gente boa que me tem acompanhado neste percurso tem tornado tudo mais fácil. Desde os colegas de trabalho, que me receberam – e todos os dias recebem – tão bem na empresa, que me ajudam e que me dão as melhores dicas de sítios a visitar, comida local a provar e atividades a experimentar nesta minha breve passagem pelo país; aos meus colegas – e amigos – de casa, com quem tenho passado alguns dos melhores momentos da minha estadia, entre jantares caseiros, serões de jogos de cartas, noites de karaoke, uma ida mais à Lagoa Azul e um pôr-do-sol em Golden Bay – do qual regressei com uma “tatuagem” não solicitada de uma alforreca para levar como souvenir de Malta; até aos locais com quem contacto numa base diária…enfim, as pessoas aqui são tão especiais quanto esta ilha também o é. E dão ainda mais cor a um país, por sua vez, repleto dela.
    Um grazzi (sentido) à malta de Malta!

    Diário de Bordo #3

    E já se passaram mais duas semanas em Malta…
    É mesmo verdade que o tempo passa a uma velocidade impressionante.
    Entretanto, e porque a vontade não era pouca, já dei o meu primeiro mergulho do ano nas águas turquesa da Lagoa Azul, assinalando também a primeira vez  que saí da ilha de Malta para visitar uma das suas irmãs, a pequena, mas bela, ilha de Comino – das três, provavelmente, a mais intocada pelo Homem.
    Entre mergulhos e caminhadas pelos altos e baixos de Malta (em sentido literal e metafórico), tive a oportunidade de, nas horas vagas, continuar a conhecer outras regiões da ilha e, aos poucos e poucos, continuar a explorar o polo cultural da cidade de Valletta, em plena semana da Páscoa.
    Em Malta, devido ao passado acentuadamente católico do país e às ainda muito presentes tradição e conexão, especialmente das gerações mais velhas, à religião, a Páscoa é celebrada em grande e é um feriado certamente levado em conta pelos malteses. Mesmo sendo eu assumidamente agnóstica, e não me sentindo particularmente ligada a qualquer religião,  sendo inclusive crítica face aos seus dogmatismos, fiz questão, ainda assim, de espreitar estas celebrações, pela curiosidade em ver (e perceber) como é que os locais vivem esta época festiva.
    Ao mesmo tempo que, por um lado, as ruas de Valletta, das Três Cidades e de tantas outras se enchiam de festas e procissões, por outro, decorria o Bienal de Arte de Malta, um evento que traz obras e instalações artísticas diversas – que traz a arte, em geral! – de vários artistas (malteses e estrangeiros) a alguns dos edifícios históricos mais emblemáticos do país. Se, por um lado, decorria uma tradicional celebração religiosa, por outro, acendia-se o diálogo entre a herança e a contemporaneidade.
    E foi interessante ver este contraste. O contraste entre o tradicional e o vanguardista. Entre o antigo e o moderno. Entre a herança cultural, artística e arquitetónica deixada pelos mestres do passado e os novos temas, estéticas, abordagens e preocupações trazidos para a mesa pelos artistas contemporâneos. Algo que, em Malta, se sente na arte e na própria vida, não fosse este país um caldeirão cultural de acentuados contrastes.
    Espero continuar a embrenhar-me na cultura de Malta no tempo que aqui me resta, pois se há coisa que gosto em passar umas temporadas fora é voltar a casa sempre a saber um bocadinho mais sobre os sítios por onde vou passando e sobre realidades diferentes da minha.

    Diário de Bordo #2

    Com o passar do tempo, tenho-me vindo a acostumar aos hábitos, rotinas e, em geral, ao ritmo da vida leve de Malta.
    Já vou conhecendo as ruas, os vizinhos, os negócios locais, e, aos poucos e poucos, “os cantos à casa”, à medida que vou explorando o que esta bonita ilha tem para oferecer.
    O estágio tem estado a correr bem, numa empresa com um ótimo ambiente, onde fui desde cedo muito bem acolhida por uma equipa amigável e disponível para me ajudar em diversas circunstâncias. Posso dizer que me sinto bem aqui.
    Estando já a ficar confortável deste lado, este último fim-de-semana decidi “pisar a linha”.
    O facto da empresa onde estagio ir fazer ponte com o feriado nacional levou-me a sair do conforto de Malta para me aventurar na Sicília. Uma viagem que queria fazer já há algum tempo e que, inesperadamente, acabou por acontecer até bem mais cedo do que esperava.
    Com tudo “planeado” em cima do joelho e com muita privação de sono à mistura, fiz as malas, muni-me de uma câmara e um rolo e parti à terra dos maffiosi numa jornada de solo travelling – daquelas que já não fazia há muito tempo e das quais já tinha saudades.
    E estou apaixonada. Numa viagem, diria eu, intensa, que teve todo o tipo de atribulações e em que todo o tipo de coisas que poderiam ter dado errado, deram mesmo errado, tive a oportunidade de percorrer esta lindíssima ilha de montes e planícies de norte a sul, de visitar a terra natal de Giuseppe Tornatore (que não é especialmente bonita, ficam a sabê-lo, mas que por todos os motivos certos serviu de inspiração a um filme que me é muito querido, o eterno Nuovo Cinema Paradiso), de ver o crepúsculo na praia de Cefalú, de conhecer a encantadora cidade de Catania, de ver uma vista lindíssima para o vulcão Etna, e de percorrer Palermo numa vespa.
    Sicília teve um pouco de tudo. Trafulhice, esquemas, momentos aleatórios de entreajuda entre quatro totais estranhas de nacionalidades diferentes, o absoluto deslumbramento que senti desde o primeiro segundo em que me vi na incrível cidade de Palermo, um jantar aleatório partilhado por sete pessoas de backgrounds e culturas completamente diferentes à base de McDonald’s, cerveja Moretti e acompanhado por um ukulele na Casa di Amici, igrejas bonitas, portentosos monumentos, lindas piazzas, alguns dos mercados de rua mais fixes com os quais tive a sorte de me cruzar nos últimos tempos, locais cheios de personalidade, um teatro romano, um tour noturno de Catania, um restaurante com uma gruta lá dentro, e muito mas muito boa comida (muita arancina e muito cannoli à mistura).
    Dicas para sobreviver à Sicília? Ufa, depois destes quatro dias, podia referir muitas. Uma delas? Cuidado com os maffiosi ahah. Digo isto, claro está, em tom de brincadeira (não vamos cair em exageros; não, a máfia não vem atrás de vocês) mas…digamos que alguns sicilianos fazem jus à sua reputação. 😛
    E já estou com saudades.
    Estou a escrever este diário de bordo a bordo do ferry em que me despeço da Sicília para regressar a Malta. E a sensação é agridoce. Foi muito pouco tempo numa ilha que, fazendo cerca de 2/3 da Bélgica, é um mundo em si…e ainda assim, em tempo recorde, já deu para experienciar tanta coisa. Certamente nunca me vou esquecer desta viagem.
    Arrivederci, Sicilia!
    De volta a Malta, venho de baterias recarregadas para continuar a retirar o máximo proveito da experiência que tem sido viver, explorar e trabalhar neste país.

    Diário de Bordo #1

    Há uma coisa em Malta que instantaneamente nos faz sentir em casa.
    Podia falar do sol, do bom tempo (ainda que, da sua média de 300 dias de sol anuais, eu já tenha apanhado 2 ou 3 de chuva em 6 de estadia), da história, da arquitectura, da cultura, das tradições, do mar, das paisagens, da comida… porém, todas essas coisas, incríveis por si só, é certo, ainda vou ter muitos dias para descobrir e redescobrir nestes três meses que se avizinham.
    Ainda assim, aquilo que em Malta nos faz sentir em casa desde o primeiro instante em que pisamos esta pequenina ilha no meio do Mediterrâneo…são mesmo as pessoas. É a simpatia. É a humildade. É a abertura. É a disponibilidade (e até iniciativa) imediatas para ajudar o outro. É o respeito. É o sorriso fácil. É a conversa leve. É o ânimo. É a curiosidade constante quando te perguntam de onde és. É o gosto genuíno por acolher quem vem de fora. É a espontaneidade com que encaram a vida. São todas estas coisas genuinamente boas que, por vezes, na correria e no ruído e no caos do nosso dia-a-dia nos esquecemos que ainda existem. Mas existem. E vale a pena parar e reparar nelas.
    Lembro-me que a Alessandra (contexto: mentora italiana da organização parceira) nos disse, quando falávamos sobre os autocarros em Malta, que o único conselho que nos dava era: “Não fiquem stressadas”. Porque estes por vezes vêm, outras vezes não vêm, outras vezes atrasam-se, outras vezes adiantam-se, e que a chave para levar a vida em Malta da maneira certa é irmos com tempo, prevenidas, mas tranquilas, e deixar fluir.
    Achei graça ao conselho e, mais ainda, à maneira de estar.
    Nem tudo corre bem em Malta e os imprevistos, já deu para perceber, são, ironicamente, parte da rotina.
    Mas os malteses levam isto com uma leveza e com uma paz que eu não só admiro, como gostaria de trabalhar.
    Se calhar pelo caminho até posso aprender qualquer coisa com eles.

     

     

     

     

    Everything Is Now.
    Learn. Do. Create.
    BEGIN HERE Get Everywhere.
    Dare To Try.