Sam The Kid de volta à ETIC: os conselhos e a afirmação de que o rap é especial e está vivo

Chelas até pode ser o sítio, mas foi na ETIC que Sam The Kid deu uma Masterclass onde, durante mais de três horas, difundiu a mensagem e a autenticidade do rap enquanto uma das certezas mais verdadeiras da arte. Diante de uma plateia cheia de talento e fome de vingar musicalmente, o cantautor e produtor português discorreu entre o seu percurso artístico e a produção de um estilo musical que continua a marcar gerações. Desde a rima ao beat, por fim, Samuel Mira assinalou o regresso a uma casa que tão bem conhece com um: “É sempre bom voltar”.
Descontraído e discreto como será apanágio de um bom poeta, Sam The Kid chegou disposto a contar a história do rap em Portugal, vivida na primeira pessoa. Começou por mencionar a origem do seu nome artístico, que lhe surgiu espontaneamente num primeiro projeto com o amigo H20’s, e cirandou pelo rap como música de intervenção quando Sara Espírito Santo, moderadora da sessão, lhe colocou a temática em cima da mesa. O artista assumiu que “o rap é intervenção, mas não deve ser fechado nessa caixinha” porque, como fez questão de evidenciar, o rap também é muitas outras coisas. Neste divagar a fundo do estilo musical enquanto intervenção, Samuel Mira confessou ter sentido mágoa quando na última década se fez uma reportagem em retrospetiva acerca da música de protesto em Portugal, sem que o rap constasse nesse projeto jornalístico – isto depois de ter sempre sido muito associado pela imprensa como um estilo interventivo.
Deixando as mágoas para trás, o autor de “Poetas de Karaoke” envolveu-se no espanto da plateia que o escutava e falou sobre o que efetivamente mais gosta: a música. Abordou o rap de várias perspetivas e declarou que o encara como “uma conversa” onde sobressai a vida, a poesia e a rima. Entre as perguntas e a curiosidade dos alunos, o rapper elencou vários pontos por que o rap é especial, destacando o orgulho que sente pelo facto de o estilo pertencer a cantautores. A paixão de Sam The Kid ficou bem vincada no entusiasmo com que abordou os vários temas da Masterclass, mas, para que o seu sentimento não escapasse a alguém que estivesse mais distraído, o músico referiu que é fã do romantismo e que gosta de “acreditar que cada palavra pode ser cantada”. A importância do homem e artista se manter fiel a si mesmo também foi uma das mensagens mais fortes transmitidas pelo produtor.
Se o tempo pareceu congelar e suspender-se numa sala aquecida pelo sentimento proporcionado pela partilha da arte, a sessão não podia acabar sem que o talento ETIC ecoasse aos ouvidos de Samuel Mira. Entre recados, conselhos, autógrafos e fotografias pedidos por uns, houve também quem não perdesse esta oportunidade junto de um dos grandes do hip hop nacional para colocar um beat a tocar no telemóvel e começar a rimar por cima desse instrumental. Durante esse momento, Sam The Kid não escondeu a expressão de contentamento, ainda que contido, e escutou quem rappava até ao fim. Quando a música acabou, Samuel apontou para Gonçalo Carvalho – aluno de Produção de Hip Hop que teve a coragem de cantar-lhe “ao ouvido” – num gesto de orgulhosa aprovação e disse: “Isso é rap!”. Como um juíz, Sam The Kid sentenciou que o rap continua bem vivo ainda que muitos não lhe liguem ou o queiram matar.